Por Aparicio Secundus Pereira Lima
Nasci num dia especial de junho, na Casa da Moeda do Brasil. Eu, parte de uma folha imensa de papel especial, cheia de assinaturas lavradas em cartório, marcas d’água, selos de segurança, era uma nota de R$ 50,00, de no 43389778, Série “D”. A funcionária da Casa da Moeda, ao separar-me de tantas notas similares, fingiu indiferença. Colocou-me imprensada no meio de outras tantas irmãs, todas com o mesmo destino: PAPEL MOEDA EM PODER DO PUBLICO. Transportada em carro blindado, com toda a segurança que tenho direito, fui enviada para o Banco Central que, depois de alguns dias armazenada no silêncio sepulcral da Casa Forte, fui encaminhada ao Banco do Brasil e logo depois me vi, quentinha, num aconchegante box de caixa automático de uma agência do BB, no interior do estado de Pernambuco. Depois de barulho ensurdecedor, senti desprender-me das minhas “irmãs”, sem tempo para despedidas, e caí, juntamente com mais poucas notas de R$ 50 e de R$ 10, nas mãos de uma professora de curso primário estadual. Nós estávamos representando o que alguns chamam de salário, e muitos de miséria. Sumir da mão da triste e conformada professora foi num abrir e fechar de olhos. Dinheiro nas mãos de assalariado injustiçado voa rápido: Ora para pagar empréstimos contraídos a terceiros (incluindo agiotas que nessas horas de desespero é o que não faltam…), ora para pagar carnê das Casas Bahia ou para comprar o minguado mantimento que a sustentaria, juntamente com a família (marido desempregado) por um interminável e enfadonho mês. Fui a vários cantos do País. Participei ativamente de golpes, lavagem de dinheiro, fui propina no bolso de figurões, passei pelo Jogo do Bicho na esperança de ser multiplicada, fui o motivo principal do aparecimento de alguns corruptos, passei por meias e cuecas (não agüento nem lembrar o cheiro…), andei pelo bolso do Sílvio Santos (virei aviãozinho em pleno programa), fiz parte de alguns pacotes fechados de notas de R$ 50 enviados a “mensaleiros” , manchei-me de sangue em brigas de prostitutas, fui alegria de tantos e a desgraça de muitos. Depositaram-me na cestinha de coleta no momento do ofertório em uma missa, fui negociada várias vezes “por debaixo dos panos”. E cá estou eu, depois de tanto giro, no bolso do escritor que me traduz. Amanhã, provavelmente, ele irá ao Banco do Brasil e trocar-me-á por outra nota de R$ 50,00 novinha em folha, pois o meu estado de conservação é lastimável. De volta à origem, sinto que estou condenada a ser repassada por uma máquina DLRS selecionadora de cédulas do Departamento do Meio Circulante do Banco Central, que dará o implacável veredicto final de “imprópria para uso”, incluindo-me no rol de outras tantas notas velhas cujo destino irreversível é passar por uma barulhenta máquina destruidora de cédulas, que, de forma sorridente e gulosa me triturará em seu estômago e me condenará à triste realidade de virar confete e depois caixa de papelão.
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