Arquivo da tag: rio Madeira

Comitê "Juntos pelo Direito à Paisagem" faz abaixo-assinado em prol do Parque dos Beradeiros, em Porto Velho

foto : B.Bertagna

foto : B.Bertagna

Na recente convenção Rio+20, os prefeitos das principais cidades do mundo apresentaram propostas, pactuaram investimentos e um cronograma de ações que vão contribuir com a melhoria da qualidade de vida em suas cidades e com a sustentabilidade do planeta. O fizeram por entenderem que o Homem mora nas cidades, nos municípios, e é ali que tem o dever de interferir em favor da construção de um ambiente melhor, para viver hoje e no futuro.
Confiantes de que este é o caminho, e aproveitando o ano do centenário da Estrada de Ferro Madeira Mamoré que, junto com o Forte Príncipe da Beira, constituem os símbolos mais importantes da Nação Rondoniense, convidamos você para vir e trazer quantos puder, para salvar e preservar um outro grande símbolo da nossa identidade: a mata ciliar da margem esquerda do Rio Madeira que, de agora em diante, chamaremos de Parque dos Beradeiros.
Nova Iorque se orgulha do Central Park, Paris dos Campos Elísios, Rio de Janeiro do Jardim Botânico, da Mata da Tijuca e da Cinelândia, Belo Horizonte do Parque Municipal encravado no coração da cidade e Boa Vista do Parque Anuá com lago e praia. E nós? Que ambiente natural estamos deixando para lembrar nossa origem e para orgulhar nossos descendentes? Por estes exemplos e razões, queremos você, que ama por nascimento ou adoção esta terra, fazendo parte deste abaixo assinado em favor da criação e preservação do Parque dos Beradeiros na margem esquerda do Rio Madeira. Essa iniciativa é fundamental para garantir que aquela área de proteção permanente, de fato, permaneça lá, visto que com a construção da ponte na região da balsa, o acesso à margem esquerda do Rio Madeira ficará fácil. Por conta disso, já se anuncia e já se inicia uma grande especulação imobiliária. E a floresta, que teima em existir, está ameaçada de sucumbir. A ocupação daquela mata ciliar já existe. Mas esse processo tende a ser muito mais acelerado agora. O que se vislumbra é um prejuízo para esse patrimônio natural e para a cultura e a história de um povo. O pôr-do-sol mais lindo do mundo deixará de existir com a supressão da mata. A identidade cultural beradeira está ameaçada.Corremos o risco de não deixarmos esse legado aos nossos filhos.
O que se busca é mostrar a necessidade de garantir que o patrimônio paisagístico, que pertence a todos, não desapareça. Cabe às autoridades municipais, estaduais e federais tomarem as iniciativas legais para que isso aconteça. E a nós provocar, manifestar nossa vontade. O Parque dos Beradeiros será, portanto, uma reserva horizontal, do trecho que faz frente com o complexo da Estrada de Ferro Madeira Mamoré até, pelo menos, 2 km abaixo do local da ponte. O parque é um instrumento para valer como Área de Preservação Permanente (APP). Essa área seria dotada de infraestrutura para fiscalização e visitação por parte da população, com pistas de caminhada, academias ao ar livre, etc. O mais importante é que o Parque dos Beradeiros garantiria a não supressão da mata, o não desaparecimento desse patrimônio paisagístico, que tanto nos orgulha e que a todos encanta. Por todo o exposto, o convidamos para assinar o presente abaixo assinado.

Deixe um comentário

Arquivado em Ao Norte

Deu no tablóide britânico The Sun: anfíbio raro apelidado de cobra-pênis é descoberto no Rio Madeira, em RO

Atretochoana eiselti foi descoberta no Rio Madeira (Foto: Juliano Tupan/Divulgação)

Atretochoana eiselti é um um anfíbio, que não tem olhos, que não tem pulmões e absorve oxigênio através da pele Foto: Juliano Tupan/Divulgação

O trabalho de um grupo de biólogos no canteiro de obras da Usina Hidrelétrica Santo Antônio, no Rio Madeira, em Porto Velho, resultou na descoberta de um anfíbio de formato parecido com uma cobra. Atretochoana eiselti é o nome científico do animal raro descoberto em Rondônia. Até então, só havia registro do anfíbio no Museu de História Natural de Viena e na Universidade de Brasília. Nenhum deles têm a descrição exata de localidade, apenas ‘América do Sul’.

O site R7 diz que ” Para você ter uma vaga ideia do quanto esse bicho é raro, havia um deles no Museu de História Natural de Viena, na Áustria, desde 1920 e só recentemente ele pode ser dissecado por cientistas de diversas partes do mundo.  Ele só pode ser dissecado porque deixou de ser o único exemplar desta espécie quando, em 1996, outro Atretochoana eiselti foi encontrado, em Brasília.

Dos seis exemplares encontrados pelo biólogo brasileiro, um morreu, três foram libertados novamente no meio ambiente e os outros dois foram levados para mais estudos porque o que se sabe a respeito deste tipo esquisito de animal é muito pouco.

Sabe-se que ele é um anfíbio, que não tem olhos, que não tem pulmões e absorve oxigênio através da pele. Medindo até 75 cm de comprimento, o Atretochoana eiselti é um mistério para os cientistas: como é que um animal deste tamanho consegue sobreviver sem ter pulmões? Rãs e sapos respiram através da pele também, mas possuem pulmões. Só animais muito pequenos, como insetos, conseguem levar a vida sem pulmões.”

Leia matéria completa no G1 e no tablóide britânico The Sun

2 Comentários

Arquivado em Delírio Cotidiano

Parque dos Beraderos

Por Rud Prado
Com a construção da ponte na região da Balsa, o acesso à margem esquerda do rio Madeira ficará fácil. Fácil demais. Por conta disso já se anuncia e já se inicia uma grande especulação imobiliária. A cidade, devido ao impedimento natural, que sempre representou a travessia pelas águas barrentas e velozes do Madeira, durante todo esse tempo resistiu à tentação de ocupar a outra margem de forma mais concreta. Agora a travessia pelas balsas está com os dias contados. E a floresta, que teima em existir, deve sucumbir. Os alicerces do que chamam “progresso” deve ficar suas raízes de ferro e cimento nos capões de floresta que ainda podemos visualizar dos mirantes de Porto Velho. A ocupação daquela mata ciliar já existe. Mas esse processo tende a ser muito mais acelerado agora. O que se vislumbra é um prejuízo para esse patrimônio natural e um prejuízo para auto estima de um povo. A identidade cultural beradeira ou beradera, como queiram está ameaçada. Essa paisagem é um patrimônio da capital do Estado de Rondônia. Um dia viramos as costas para rio. Agora não podemos virar as costas o iminente desaparecimento da mata do lado esquerdo do Madeira. Se nada fizermos, a nossa paisagem, a mata ciliar – ou o que dela resta -, vai desaparecer. De um dia para o outro o sol pode não mais encontrar o naco de mata onde repousa. Sim, o por do sol mais belo do mundo pode estar com os dias contados. Se ficarmos calados, inertes, o nosso cartão postal, registrado todas as tardes pelos ávidos cliques das máquinas digitais, poderá ser deletado para sempre. A ganância não tem limite. Sua sede de lucro draga o rio, envenena a água, assassina os peixes, mata a mata. A ganância não dá margem à razão, tratora a emoção. A história de várias gerações é substituída por outra que caiba no balanço anual. É hora da caboclada se unir. Não podemos deixar que arranquem aquelas árvores, e com elas nossa identidade. Não podemos deixar que tirem nosso orgulho, nossa história. Precisamos tirar o grito de nossas gargantas. Porque é certo que virão as máquinas barulhentas com suas bocas escancaradas cheirando a óleo diesel, famintas. Comendo casas de pássaros, moradas de caboclos, mastigando a vida. Mas nós podemos evitar isso. Nós podemos pensar. Nós podemos sentir. Nós podemos gritar. Nós podemos nos juntar. Juntos, vamos impedir que nossa paisagem desapareça. Exigir que se crie um parque, uma reserva florestal urbana. Vamos fazer com que se respeite a mata ciliar da margem esquerda do Rio Madeira. Porque isso está na lei. Lei da qual nem se falava quando se destruíu tudo do lado direito, quando sobre palafitas foi-se edificando a miséria, se equilibrando a indignidade. Mas podemos escrever um outro lado da história e que ele seja diferente. A margem esquerda do Madeira pode se tornar um imenso parque. Além de evitar a destruição da mata, podemos recuperar o que foi devastado, A idéia é propor um parque. O tamanho que terá esse parque? Não sei, convido todos para o debate, para sugestões. Mas é preciso que nele, além da paisagem onde pousa nossos olhares e repousa o sol, tenha espaço para a arte, para a música, para o teatro. Para o abrir das flores, de um livro, para a contemplação. Com o Parque dos Beraderos, com o nosso parque, podemos dar um passo rumo à sustentabilidade. Fazer de Rondônia um bom exemplo para o mundo. Que a cidade vai se estabelecer do outro lado, não há dúvida.Isso já é uma realidade. Mas que venha depois da floresta. Que se respeite a mata ciliar.Que não se construa na margem do rio. E que, para essa cidade de lá e de cá, seja pensado um sistema de tratamento de esgoto, para não transformarmos o Rio Madeira num imenso canal de dejetos . Para não dar margem à destruição, para salvar a mata do Beradão, vamos criar juntos o Parque dos Beraderos. Convido a galera a refletir sobre isso. É um manifesto de um pantaneiro que virou beradero, o grito de quem aprendeu a amar as coisas dessa terra. Quero ver o que é bonito preservado. Sonho que se sonha só, vocês sabem: é só um sonho. Juntos, tudo é possível. Meu email está aberto para receber sugestões: rudprado@gmail.com

Deixe um comentário

Arquivado em Delírio Cotidiano

Rapidinha

O presidente da Federação Nacional das Empresas de Navegação – Fenavega, Meton Soares, recebeu preocupante mensagem do presidente do presidente do Sindicato das Empresas de Travessia e Navegação, Transporte de Passageiros, Veículos e Cargas Lacustre e Fluvial do Estado de Rondônia (Sindfluvial), Raimundo Holanda. Além da queda do nível d’água do Rio Madeira – essencial para navegação na região – apareceram no rio conjuntos de toras de árvores, que, presumivelmente, poderiam ter sido liberados pelas construtoras das barragens no rio, ameaçando os barcos da região.

Deixe um comentário

Arquivado em Rapidinha

Barquinho no Madeira rumo a Manaus

1 comentário

Arquivado em Ao Norte

Final de tarde no rio Madeira…

2 Comentários

Arquivado em Ao Norte

Ao Norte – 46

Barranca de Calama, distrito de Porto Velho, às margens do rio Madeira foto : Cineamazonia/B.Delano

Barranca de Calama, distrito de Porto Velho, às margens do rio Madeira foto : B. Delano

Deixe um comentário

Arquivado em Ao Norte

Dica de final de semana : visitar o "Carlos Chagas", navio da esperança

O NAsH Carlos Chagas - U 19 , Classe Oswaldo Cruz, da Marinha do Brasil

O Navio de Assistência Hospitalar “Carlos Chagas” – U-19, cujo nome homenageia o ilustre cientista, está atracado no cais da Marinha do Brasil – na área do complexo da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, após cumprir ciclo de atendimento médico e odontológico às populações ribeirinhas na calha do Rio Madeira, bem como potencializar a presença da Marinha do Brasil na região amazônica. Ele é  capaz de operar 1 helicóptero Bell Jet Ranger IH-6 ou 1 Hélibras Esquilo UH-12.  Sua tripulação é formada por 27 homens, sendo 6 oficiais e 22 praças, mais 4 oficiais médicos, 2 dentistas e 15 praças enfermeiros/farmacêuticos.
O Navio de Assistência Hospitalar Carlos Chagas é o segundo, de uma série de dois Navios de Assistência Hospitalar encomendados pelo Ministério da Saúde para realizar missões de atendimento médico-odontológico às populações ribeirinhas da Região Amazônica. Foi projetado e construído pelo AMRJ – Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, Ilha das Cobras, Rio de Janeiro, de acordo com as mais avançadas técnicas de Engenharia Naval, e com um índice de nacionalização de 98%. Como resultado de um convênio feito entre os Ministérios da Marinha, Saúde e Previdência e Assistência Social, o NasH Carlos Chagas passou a ser operado pela Marinha do Brasil. Em março de 85 foi incorporado a Flotilha do Amazonas (FlotAM).
A população do Estado de Rondônia está convidada para visitação pública às instalações deste  famoso “Navio da Esperança”.
Segundo informações da Delegacia Fluvial em Porto Velho, a visitação vai até o final da tarde de domingo, sendo que o navio zarpará na segunda.

Deixe um comentário

Arquivado em Efêmeras Divagações

Dica de final de semana : visitar o “Carlos Chagas”, navio da esperança

O NAsH Carlos Chagas - U 19 , Classe Oswaldo Cruz, da Marinha do Brasil

O Navio de Assistência Hospitalar “Carlos Chagas” – U-19, cujo nome homenageia o ilustre cientista, está atracado no cais da Marinha do Brasil – na área do complexo da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, após cumprir ciclo de atendimento médico e odontológico às populações ribeirinhas na calha do Rio Madeira, bem como potencializar a presença da Marinha do Brasil na região amazônica. Ele é  capaz de operar 1 helicóptero Bell Jet Ranger IH-6 ou 1 Hélibras Esquilo UH-12.  Sua tripulação é formada por 27 homens, sendo 6 oficiais e 22 praças, mais 4 oficiais médicos, 2 dentistas e 15 praças enfermeiros/farmacêuticos.
O Navio de Assistência Hospitalar Carlos Chagas é o segundo, de uma série de dois Navios de Assistência Hospitalar encomendados pelo Ministério da Saúde para realizar missões de atendimento médico-odontológico às populações ribeirinhas da Região Amazônica. Foi projetado e construído pelo AMRJ – Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, Ilha das Cobras, Rio de Janeiro, de acordo com as mais avançadas técnicas de Engenharia Naval, e com um índice de nacionalização de 98%. Como resultado de um convênio feito entre os Ministérios da Marinha, Saúde e Previdência e Assistência Social, o NasH Carlos Chagas passou a ser operado pela Marinha do Brasil. Em março de 85 foi incorporado a Flotilha do Amazonas (FlotAM).
A população do Estado de Rondônia está convidada para visitação pública às instalações deste  famoso “Navio da Esperança”.
Segundo informações da Delegacia Fluvial em Porto Velho, a visitação vai até o final da tarde de domingo, sendo que o navio zarpará na segunda.

Deixe um comentário

Arquivado em Efêmeras Divagações

Navios-tanques estão roubando água da Amazônia para levar para o Exterior

Hidropirataria: agora, a Amazônia está enfrentando o tráfico de água doce.

Da redação de NoticiaRo com base em informações de Chico Araújo/ Envolverde/Agência Amazônia/NoticiaRo.com

BRASÍLIA, quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010 (NoticiaRo.com) – Além de o rio Madeira estar sendo destruído pela construção das hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau, em Rondônia, as águas que ele despeja no Amazonas estão sendo levadas para navios-tanques piratas que estão invadindo a região, fazendo o tráfico de água doce no Brasil para o Exterior.

Empresas internacionais até já criaram novas tecnologias para a captação da água dos rios que formam o Amazonas, a principal vítima dos hidropiratas.

Nesse comércio, a nova tecnologia introduzida no transporte transatlântico de água são as bolsas de água. A técnica já é utilizada no Reino Unido, Noruega ou Califórnia. O tamanho dessas bolsas excede ao de muitos navios juntos, explica a revista Consulex.

O transporte internacional de água também já é realizado através de grandes petroleiros. Eles saem de seu país de origem carregados de petróleo e retornam com água.

Estima-se que cada embarcação seja abastecida com 250 milhões de litros de água doce, para engarrafamento na Europa, Oriente Médio e Extremo Oriente, até para a China.

A denúncia está na revista jurídica Consulex 310, de dezembro do ano passado, num texto sobre a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o mercado internacional de água. A revista diz:  “Navios-tanque estão retirando sorrateiramente água do Rio Amazonas”.

Diz a revista ser grande o interesse pela água farta do Brasil, considerando que é mais barato tratar águas usurpadas (US$ 0,80 o metro cúbico) do que realizar a dessalinização das águas oceânicas (US$ 1,50).

Há três anos, a Agência Amazônia também denunciou a prática nefasta. Até agora, ao que se sabe nada de concreto foi feito para coibir o crime batizado de hidropirataria.

A revista Consulex destaca que essa prática é ilegal e não pode ser negligenciada pelas autoridades brasileiras, pois as águas dos rios brasileiros são bens da União, assim como os lagos, os rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seus domínio, de acordo com a Constituição Federal, artigo 20, III.

Outro dispositivo, a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, atribui à Agência Nacional de Águas (ANA), entre outros órgãos federais, a fiscalização dos recursos hídricos de domínio da União.

A lei ainda prevê os mecanismos de outorga de utilização desse direito. O artigo da Consulex, assinado pela advogada Ilma de Camargos Pereira Barcellos, destaca ainda que a água é um bem ambiental de uso comum da humanidade.

“É recurso vital. Dela depende a vida no planeta. Por isso mesmo impõe-se salvaguardar os recursos hídricos do País de interesses econômicos ou políticos internacionais”, diz a advogada

“A capacidade dos navios que usam a tecnologia das bolsas d’água é muito superior à dos superpetroleiros”. Ainda de acordo com a revista, as bolsas podem ser projetadas de acordo com necessidade e a quantidade de água e puxadas por embarcações rebocadoras convencionais.

Há seis anos, o jornalista Erick Von Farfan também denunciou o caso. Numa reportagem no site eco21 lembrava que, depois de sofrer com a biopirataria, com o roubo de minérios e madeiras nobres, agora a Amazônia está enfrentando o tráfico de água doce

TRÁFICO DE ÁGUA DOCE

A nova modalidade de saque aos recursos naturais foi identificada por Farfan de hidropirataria. Segundo ele, os cientistas e autoridades brasileiras foram informadas que navios petroleiros estão reabastecendo seus reservatórios no rio Amazonas antes de sair das águas nacionais.

Farfan ouviu Ivo Brasil, Diretor de Outorga, Cobrança e Fiscalização da Agência Nacional de Águas. O dirigente disse saber desta ação ilegal. Contudo, ele aguarda uma denúncia oficial chegar à entidade para poder tomar as providências necessárias. “Só assim teremos condições legais para agir contra essa apropriação indevida”, afirmou.

O dirigente está preocupado com a situação. Precisa, porém, dos amparos legais para mobilizar tanto a Marinha como a Polícia Federal, que necessitam de comprovação do ato criminoso para promover uma operação na foz dos rios de toda a região amazônica próxima ao Oceano Atlântico. “Tenho ouvido comentários neste sentido, mas ainda nada foi formalizado”, observa.

ÁGUAS AMAZÔNICAS

Segundo Farfan, o tráfico pode ter ligações diretas com empresas multinacionais, pesquisadores estrangeiros autônomos ou missões religiosas internacionais.

Também lembra que até agora nem mesmo com o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) foi possível conter os contrabandos e a interferência externa dentro da região.

A hidropirataria também é conhecida dos pesquisadores da Petrobrás e de órgãos públicos estaduais do Amazonas. A informação deste novo crime chegou, de maneira não oficial, ao Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), órgão do governo local.

“Uma mobilização até o local seria extremamente dispendiosa e necessitaríamos do auxílio tanto de outros órgãos como da comunidade para coibir essa prática”, reafirmou Ivo Brasil.

A captação é feita pelos petroleiros principalmente na foz do rio ou já dentro do curso de água doce. Somente o local do deságüe do Amazonas no Atlântico tem 320 km de extensão e fica dentro do território do Amapá.

Neste lugar, a profundidade média é em torno de 50 m, o que suportaria o trânsito de um grande navio cargueiro. O contrabando é facilitado pela ausência de fiscalização na área.

ÁGUA MAIS BARATA

Essa água, apesar de conter uma gama residual imensa e a maior parte de origem mineral, pode ser facilmente tratada. Para empresas engarrafadoras, tanto da Europa como do Oriente Médio, trabalhar com essa água mesmo no estado bruto representaria uma grande economia.

O custo por litro tratado seria muito inferior aos processos de dessalinizar águas subterrâneas ou oceânicas. Além de livrar-se do pagamento das altas taxas de utilização das águas de superfície existentes, principalmente, dos rios europeus. Abaixo, alguns trechos da reportagem de Erick Von Farfan:

O diretor de operações da empresa Águas do Amazonas, o engenheiro Paulo Edgard Fiamenghi, trata as águas do Rio Negro, que abastece Manaus, por processos convencionais. E reconhece que esse procedimento seria de baixo custo para países com grandes dificuldades em obter água potável.

“Levar água para se tratar no processo convencional é muito mais barato que o tratamento por osmose reversa”, comenta.

O avanço sobre as reservas hídricas do maior complexo ambiental do mundo, segundo os especialistas, pode ser o começo de um processo desastroso para a Amazônia. E isto surge num momento crítico, cujos esforços estão concentrados em reduzir a destruição da flora e da fauna, abrandando também a pressão internacional pela conservação dos ecossistemas locais.

Entretanto, no meio científico ninguém poderia supor que o manancial hídrico seria a próxima vítima da pirataria ambiental. Porém os pesquisadores brasileiros questionam o real interesse em se levar as águas amazônicas para outros continentes.

ORGANISMOS VIVOS

O que suscita novamente o maior drama amazônico, o roubo de seus organismos vivos. “Podem estar levando água, peixes ou outras espécies e isto envolve diretamente a soberania dos países na região”, argumentou Martini.

A mesma linha de raciocínio é utilizada pelo professor do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Universidade Federal do Paraná, Ary Haro.

Para ele, o simples roubo de água doce está longe de ser vantajoso no aspecto econômico. “Como ainda é desconhecido, só podemos formular teorias e uma delas pode estar ligada ao contrabando de peixes ou mesmo de microorganismos”, observou.

Essa suposição também é tida como algo possível para Fiamenghi, pois o volume levado na nova modalidade, denominada “hidropirataria” seria relativamente pequeno.

Um navio petroleiro armazenaria o equivalente a meio dia de água utilizada pela cidade de Manaus, de 1,5 milhão de habitantes. “Desconheço esse caso, mas podemos estar diante de outros interesses além de se levar apenas água doce”, comentou.

Segundo o pesquisador do Inpe, a saturação dos recursos hídricos utilizáveis vem numa progressão mundial e a Amazônia é considerada a grande reserva do Planeta para os próximos mil anos.

Pelos seus cálculos, 12% da água doce de superfície se encontram no território amazônico. “Essa é uma estimativa extremamente conservadora, há os que defendem 26% como o número mais preciso”, explicou.

Em todo o Planeta, dois terços são ocupados por oceanos, mares e rios. Porém, somente 3% desse volume são de água doce. Um índice baixo, que se torna ainda menor se for excluído o percentual encontrado no estado sólido, como nas geleiras polares e nos cumes das grandes cordilheiras. Contando ainda com as águas subterrâneas.

Atualmente, na superfície do Planeta, a água em estado líquido, representa menos de 1% deste total disponível.

GUERRA POR ÁGUA

A previsão é que num período entre 100 e 150 anos, as guerras sejam motivadas pela detenção dos recursos hídricos utilizáveis no consumo humano e em suas diversas atividades, com a agricultura.

Muito disto se daria pela quebra dos regimes de chuvas, causada pelo aquecimento global. Isto alteraria profundamente o cenário hidrológico mundial, trazendo estiagem mais longas, menores índices pluviométricos, além do degelo das reservas polares e das neves permanentes.

Sob esse aspecto, a Amazônia se transforma num local estratégico. Muito devido às suas características particulares, como o fato de ser a maior bacia existente na Terra e deter a mais complexa rede hidrográfica do planeta, com mais de mil afluentes.

Diante deste quadro, a conclusão é óbvia: a sobrevivência da biodiversidade mundial passa pela preservação desta reserva.

Mas a importância deste reduto natural poderá ser, num futuro próximo, sinônimo de riscos à soberania dos territórios panamazônicos. O que significa dizer que o Brasil seria um alvo prioritário numa eventual tentativa de se internacionalizar esses recursos, como já ocorre no caso das patentes de produtos derivados de espécies amazônicas. Pois 63,88% das águas que formam o rio se encontram dentro dos limites nacionais.

Esse potencial conflito é algo que projetos como o Sistema de Vigilância da Amazônia procuram minimizar. Outro aspecto a ser contornado é a falta de monitoramento da foz do rio.

A cobertura de nuvens em toda Amazônia é intensa e os satélites de sensoriamento remoto não conseguem obter imagens do local. Já os satélites de captação de imagens via radar, que conseguiriam furar o bloqueio das nuvens e detectar os navios, estão operando mais ao norte.

As águas amazônicas representam 68% de todo volume hídrico existente no Brasil. E sua importância para o futuro da humanidade é fundamental.

Entre 1970 e 1995 a quantidade de água disponível para cada habitante do mundo caiu 37% em todo mundo, e atualmente cerca de 1,4 bilhão de pessoas não têm acesso a água limpa. Segundo a Water World Vision, somente o Rio Amazonas e o Congo podem ser qualificados como limpos.

Leia também > http://wp.me/pKJQL-1t3


17 Comentários

Arquivado em Notícias

Navios-tanques estão roubando água da Amazônia para levar para o Exterior

Hidropirataria: agora, a Amazônia está enfrentando o tráfico de água doce.

Da redação de NoticiaRo com base em informações de Chico Araújo/ Envolverde/Agência Amazônia/NoticiaRo.com

BRASÍLIA, quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010 (NoticiaRo.com) – Além de o rio Madeira estar sendo destruído pela construção das hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau, em Rondônia, as águas que ele despeja no Amazonas estão sendo levadas para navios-tanques piratas que estão invadindo a região, fazendo o tráfico de água doce no Brasil para o Exterior.

Empresas internacionais até já criaram novas tecnologias para a captação da água dos rios que formam o Amazonas, a principal vítima dos hidropiratas.

Nesse comércio, a nova tecnologia introduzida no transporte transatlântico de água são as bolsas de água. A técnica já é utilizada no Reino Unido, Noruega ou Califórnia. O tamanho dessas bolsas excede ao de muitos navios juntos, explica a revista Consulex.

O transporte internacional de água também já é realizado através de grandes petroleiros. Eles saem de seu país de origem carregados de petróleo e retornam com água.

Estima-se que cada embarcação seja abastecida com 250 milhões de litros de água doce, para engarrafamento na Europa, Oriente Médio e Extremo Oriente, até para a China.

A denúncia está na revista jurídica Consulex 310, de dezembro do ano passado, num texto sobre a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o mercado internacional de água. A revista diz:  “Navios-tanque estão retirando sorrateiramente água do Rio Amazonas”.

Diz a revista ser grande o interesse pela água farta do Brasil, considerando que é mais barato tratar águas usurpadas (US$ 0,80 o metro cúbico) do que realizar a dessalinização das águas oceânicas (US$ 1,50).

Há três anos, a Agência Amazônia também denunciou a prática nefasta. Até agora, ao que se sabe nada de concreto foi feito para coibir o crime batizado de hidropirataria.

A revista Consulex destaca que essa prática é ilegal e não pode ser negligenciada pelas autoridades brasileiras, pois as águas dos rios brasileiros são bens da União, assim como os lagos, os rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seus domínio, de acordo com a Constituição Federal, artigo 20, III.

Outro dispositivo, a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, atribui à Agência Nacional de Águas (ANA), entre outros órgãos federais, a fiscalização dos recursos hídricos de domínio da União.

A lei ainda prevê os mecanismos de outorga de utilização desse direito. O artigo da Consulex, assinado pela advogada Ilma de Camargos Pereira Barcellos, destaca ainda que a água é um bem ambiental de uso comum da humanidade.

“É recurso vital. Dela depende a vida no planeta. Por isso mesmo impõe-se salvaguardar os recursos hídricos do País de interesses econômicos ou políticos internacionais”, diz a advogada

“A capacidade dos navios que usam a tecnologia das bolsas d’água é muito superior à dos superpetroleiros”. Ainda de acordo com a revista, as bolsas podem ser projetadas de acordo com necessidade e a quantidade de água e puxadas por embarcações rebocadoras convencionais.

Há seis anos, o jornalista Erick Von Farfan também denunciou o caso. Numa reportagem no site eco21 lembrava que, depois de sofrer com a biopirataria, com o roubo de minérios e madeiras nobres, agora a Amazônia está enfrentando o tráfico de água doce

TRÁFICO DE ÁGUA DOCE

A nova modalidade de saque aos recursos naturais foi identificada por Farfan de hidropirataria. Segundo ele, os cientistas e autoridades brasileiras foram informadas que navios petroleiros estão reabastecendo seus reservatórios no rio Amazonas antes de sair das águas nacionais.

Farfan ouviu Ivo Brasil, Diretor de Outorga, Cobrança e Fiscalização da Agência Nacional de Águas. O dirigente disse saber desta ação ilegal. Contudo, ele aguarda uma denúncia oficial chegar à entidade para poder tomar as providências necessárias. “Só assim teremos condições legais para agir contra essa apropriação indevida”, afirmou.

O dirigente está preocupado com a situação. Precisa, porém, dos amparos legais para mobilizar tanto a Marinha como a Polícia Federal, que necessitam de comprovação do ato criminoso para promover uma operação na foz dos rios de toda a região amazônica próxima ao Oceano Atlântico. “Tenho ouvido comentários neste sentido, mas ainda nada foi formalizado”, observa.

ÁGUAS AMAZÔNICAS

Segundo Farfan, o tráfico pode ter ligações diretas com empresas multinacionais, pesquisadores estrangeiros autônomos ou missões religiosas internacionais.

Também lembra que até agora nem mesmo com o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) foi possível conter os contrabandos e a interferência externa dentro da região.

A hidropirataria também é conhecida dos pesquisadores da Petrobrás e de órgãos públicos estaduais do Amazonas. A informação deste novo crime chegou, de maneira não oficial, ao Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), órgão do governo local.

“Uma mobilização até o local seria extremamente dispendiosa e necessitaríamos do auxílio tanto de outros órgãos como da comunidade para coibir essa prática”, reafirmou Ivo Brasil.

A captação é feita pelos petroleiros principalmente na foz do rio ou já dentro do curso de água doce. Somente o local do deságüe do Amazonas no Atlântico tem 320 km de extensão e fica dentro do território do Amapá.

Neste lugar, a profundidade média é em torno de 50 m, o que suportaria o trânsito de um grande navio cargueiro. O contrabando é facilitado pela ausência de fiscalização na área.

ÁGUA MAIS BARATA

Essa água, apesar de conter uma gama residual imensa e a maior parte de origem mineral, pode ser facilmente tratada. Para empresas engarrafadoras, tanto da Europa como do Oriente Médio, trabalhar com essa água mesmo no estado bruto representaria uma grande economia.

O custo por litro tratado seria muito inferior aos processos de dessalinizar águas subterrâneas ou oceânicas. Além de livrar-se do pagamento das altas taxas de utilização das águas de superfície existentes, principalmente, dos rios europeus. Abaixo, alguns trechos da reportagem de Erick Von Farfan:

O diretor de operações da empresa Águas do Amazonas, o engenheiro Paulo Edgard Fiamenghi, trata as águas do Rio Negro, que abastece Manaus, por processos convencionais. E reconhece que esse procedimento seria de baixo custo para países com grandes dificuldades em obter água potável.

“Levar água para se tratar no processo convencional é muito mais barato que o tratamento por osmose reversa”, comenta.

O avanço sobre as reservas hídricas do maior complexo ambiental do mundo, segundo os especialistas, pode ser o começo de um processo desastroso para a Amazônia. E isto surge num momento crítico, cujos esforços estão concentrados em reduzir a destruição da flora e da fauna, abrandando também a pressão internacional pela conservação dos ecossistemas locais.

Entretanto, no meio científico ninguém poderia supor que o manancial hídrico seria a próxima vítima da pirataria ambiental. Porém os pesquisadores brasileiros questionam o real interesse em se levar as águas amazônicas para outros continentes.

ORGANISMOS VIVOS

O que suscita novamente o maior drama amazônico, o roubo de seus organismos vivos. “Podem estar levando água, peixes ou outras espécies e isto envolve diretamente a soberania dos países na região”, argumentou Martini.

A mesma linha de raciocínio é utilizada pelo professor do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Universidade Federal do Paraná, Ary Haro.

Para ele, o simples roubo de água doce está longe de ser vantajoso no aspecto econômico. “Como ainda é desconhecido, só podemos formular teorias e uma delas pode estar ligada ao contrabando de peixes ou mesmo de microorganismos”, observou.

Essa suposição também é tida como algo possível para Fiamenghi, pois o volume levado na nova modalidade, denominada “hidropirataria” seria relativamente pequeno.

Um navio petroleiro armazenaria o equivalente a meio dia de água utilizada pela cidade de Manaus, de 1,5 milhão de habitantes. “Desconheço esse caso, mas podemos estar diante de outros interesses além de se levar apenas água doce”, comentou.

Segundo o pesquisador do Inpe, a saturação dos recursos hídricos utilizáveis vem numa progressão mundial e a Amazônia é considerada a grande reserva do Planeta para os próximos mil anos.

Pelos seus cálculos, 12% da água doce de superfície se encontram no território amazônico. “Essa é uma estimativa extremamente conservadora, há os que defendem 26% como o número mais preciso”, explicou.

Em todo o Planeta, dois terços são ocupados por oceanos, mares e rios. Porém, somente 3% desse volume são de água doce. Um índice baixo, que se torna ainda menor se for excluído o percentual encontrado no estado sólido, como nas geleiras polares e nos cumes das grandes cordilheiras. Contando ainda com as águas subterrâneas.

Atualmente, na superfície do Planeta, a água em estado líquido, representa menos de 1% deste total disponível.

GUERRA POR ÁGUA

A previsão é que num período entre 100 e 150 anos, as guerras sejam motivadas pela detenção dos recursos hídricos utilizáveis no consumo humano e em suas diversas atividades, com a agricultura.

Muito disto se daria pela quebra dos regimes de chuvas, causada pelo aquecimento global. Isto alteraria profundamente o cenário hidrológico mundial, trazendo estiagem mais longas, menores índices pluviométricos, além do degelo das reservas polares e das neves permanentes.

Sob esse aspecto, a Amazônia se transforma num local estratégico. Muito devido às suas características particulares, como o fato de ser a maior bacia existente na Terra e deter a mais complexa rede hidrográfica do planeta, com mais de mil afluentes.

Diante deste quadro, a conclusão é óbvia: a sobrevivência da biodiversidade mundial passa pela preservação desta reserva.

Mas a importância deste reduto natural poderá ser, num futuro próximo, sinônimo de riscos à soberania dos territórios panamazônicos. O que significa dizer que o Brasil seria um alvo prioritário numa eventual tentativa de se internacionalizar esses recursos, como já ocorre no caso das patentes de produtos derivados de espécies amazônicas. Pois 63,88% das águas que formam o rio se encontram dentro dos limites nacionais.

Esse potencial conflito é algo que projetos como o Sistema de Vigilância da Amazônia procuram minimizar. Outro aspecto a ser contornado é a falta de monitoramento da foz do rio.

A cobertura de nuvens em toda Amazônia é intensa e os satélites de sensoriamento remoto não conseguem obter imagens do local. Já os satélites de captação de imagens via radar, que conseguiriam furar o bloqueio das nuvens e detectar os navios, estão operando mais ao norte.

As águas amazônicas representam 68% de todo volume hídrico existente no Brasil. E sua importância para o futuro da humanidade é fundamental.

Entre 1970 e 1995 a quantidade de água disponível para cada habitante do mundo caiu 37% em todo mundo, e atualmente cerca de 1,4 bilhão de pessoas não têm acesso a água limpa. Segundo a Water World Vision, somente o Rio Amazonas e o Congo podem ser qualificados como limpos.

Leia também > http://wp.me/pKJQL-1t3


Deixe um comentário

Arquivado em Notícias

Túnel do tempo

Madeira-Mamoré revisitada.

Guarita do Tapiri Selva Hotel na Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. O hotel de selva  ficava no lago do Belmont  Este era o local de venda de pacotes para o hotel e o local de embarque e desembarque para quem se hospedava no complexo hoteleiro ecológico, que ficava a algumas horas de Porto Velho.  Ao lado, vista parcial da Sorveteria Mamoré, com suas mesas e cadeiras com vista para o rio Madeira.

Deixe um comentário

Arquivado em Efêmeras Divagações

Degelo nos Andes bolivianos mata milhares de tartarugas no Vale do Guaporé em RO

O Vale do Guaporé é garantia para a reprodução dos quelônios

Por Nelson Townes, do NoticiaRo.com

Ao menos 300 a 400 mil filhotes de tartarugas, tracajás, “matas-matas”, cangarás e outros quelônios morreram ou deixaram de nascer em 2009 em praias fluviais de desova de rios de Rondônia,  inundadas por enchentes causadas pelo aumento do degelo dos Andes Bolivianos.

Este é provavelmente o primeiro grave impacto do aquecimento global na Amazônia. As geleiras dos Andes bolivianos (como no resto da cordilheira) estão sendo derretidas pelo aumento da temperatura no planeta.

O desastre em Rondônia aconteceu entre agosto e outubro do ano passado, quando as tartarugas e outros quelônios procuravam as praias dos rios Guaporé e Mamoré, na fronteira com a Bolívia, para desovar, como fazem anualmente, e não as encontraram.

Elas estavam submersas pelos rios afetados pelo degelo dos Andes – que fizeram subir o nível dos rios Beni ( o nome que o bolivianos dão ao Guaporé), e Madre de Dios e Yata, que deságuam no Mamoré

O nível dos rios subiu também sob efeito da volta do El Niño, o fenômeno climático que aquece as águas do oceano Pacífico a causa chuvas em Rondônia.

Os ribeirinhos e os encarregados de monitorar a reprodução e preservação dos quelônios foram os primeiros a perceber a tragédia. Eles calculam que normalmente são enterrados ao menos 500 mil ovos por ano nas areias das praias fluviais.

Os monitores disseram a “NoticiaRo.com” que, em 2009, no máximo cerca de 100 mil ovos ou menos foram desovados e eclodiram em raras faixas de praia não alagadas. “Até o momento, creio que temos a lamentar a perda  de 300 a 400 mil quelônios que normalmente nascem nesta época” – calculou um dos encarregados de controlar a população da espécie

Alguns ribeirinhos ainda têm a esperança de que parte dos quelônios que procuravam outras praias para desovar tenham conseguido encontrá-las.

Em poucos dias os ovos eclodem e os filhotes seguem na direção do rio. Mas, para a eclosão, é necessário que sejam enterrados na areia e fiquem sob o calor do sol.

Os quelônios estão na lista das espécies em extinção na Amazônia. Os rios do Vale do Guaporé são seu último reduto de sobrevivência. Funcionários públicos e voluntários trabalham monitorando as praias fluviais onde são desovados e de onde correm para o rio.

A corrida das minúsculas tartarugas para a água constitue um espetáculo que até se tornou atração turística em Costa Marques, 716 quilômetros ao sul de Porto Velho. Para proteção dos ovos, ou de recém-nascidos, em certas circunstâncias, há até um “berçário” de tartarugas nesta cidade

Os rios com o nível aumentado pelo degelo estão localizados no Vale do Guaporé, no sudoeste, sul e sudeste de Rondônia. O fenômeno parece não ter dado tempo aos voluntários de defender as espécies ou controlar o perigo.

A região, considerada um “santuário ecológico” do noroeste do Brasil, mostrou sua fragilidade diante das agressões ambientais planetárias – reconheceu um voluntário.

A água das geleiras bolivianas é essencial, porém, para a formação das bacias hidrográficas da Amazônia. O principal afluente do Amazonas, o rio Madeira, é formado por rios que surgem com o degelo normal de parte dos Andes quando começa o “verão amazônico” – a época da estiagem que dura seis meses.

O volume de água do excesso de degelo em 2009, acumulado nos rios do Vale do Guaporé vai, num primeiro momento aumentar o nível do rio Madeira. As autoridades da Defesa Civil estão preocupadas com a possibilidade de causar enchentes em Porto Velho, talvez maiores do que a de anos anteriores.

Influi na questão climática a Alta da Bolívia, um fenômeno, como explicam os meteorologistas, presente nos altos níveis da atmosfera (geralmente em cima do território boliviano, por isso essa denominação) e que favorece a organização de áreas de instabilidade em todo o seu redor.

É um sistema típico desta época do ano e que, junto com a Zona de Convergência do Atlântico Sul, é responsável pelos acumulados significativos de chuva que ocorrem durante o inverno amazônico em Rondônia.

Este sistema favoreceu, nos últimos dias, a organização de muitas nuvens em todo o Estado. Com o calor e a grande disponibilidade de umidade, as nuvens ficam carregadas com facilidade e por isso as chuvas ocorreram com bastante frequência em todo o Estado.

Um boletim da Divisão de Meteorologia do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), mostra de modelos de previsão climática indicando que o fenômeno El Niño ainda deve continuar atuando na região do Pacífico Equatorial, causando chuvas acima da média no Sul e oeste de Rondônia, sul do Pará, sul de Tocantins e nos setores sul, leste e nordeste do Mato Grosso.

O El Niño ameaça com novas enchentes os Estados do Sul, especialmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

Nos Estados do Sudeste e do Centro-Oeste o fenômeno é caracterizado pela irregularidade da chuva, com períodos chuvosos intercalando períodos de veranico, secos e quentes.

No Nordeste a chuva diminui drasticamente, e no Norte ocorre menos chuva do que o normal.

O meteorologistas explicam que em anos em que o fenômeno El Niño se estabelece, há o enfraquecimento dos ventos alísios, que sopram de leste para oeste nas proximidades da linha do Equador.

Outras previsões indicam que, como o degelo dos Andes bolivianos foi intenso no ano passado, as geleiras bolivianas provavelmente não terão água suficiente no próximo verão para alimentar os rios e, ao contrário de 2010, o ano de 2011 poderá ter uma diminuição do nível do próprio rio Madeira.

O baixo nível do rio a partir de 2011 poderá prejudicar o funcionamento das hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau e a navegação das grandes balsas de soja entre Porto Velho e Itacoatiara.

Deixe um comentário

Arquivado em Efêmeras Divagações