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2013: coragem para se renovar (via leonardoBOFF.com)

Por Leonardo Boff

Há mais de quinze anos atrás publiquei no Jornal do Brasil um artigo sob o título “Rejuvenescer como águias”. Relendo aquelas reflexões me dei conta como de elas são ainda atuais nos tempos maus sob os quais vivemos e sofremos. Retomo-as para alimentar nossa esperança enfraquecida e ameaçada pelas ameaças que pesam sobre a Terra e a Humanidade. Se não nos agarrarmos a alguma esperança, perdemos o  horizonte de futuro e corremos o risco de nos entregarmos ao desamparo imobilizador ou à resignação estéril.

Neste contexto lembrei-me de um mito da antiga cultura mediterrânea sobre o rejuvenescimento das águias.

De tempos em tempos, reza o mito, a águia, como a fênix egípcia, se renova totalmente. Ela voa cada vez mais alto até chegar perto do sol. Então as penas se incendeiam e ela toda começa a arder. Quando chega a este ponto, ela se precipita do céu e se lança qual flecha nas águas frias do lago. E o fogo se apaga. Mas através desta experiência de fogo e de água, a velha águia rejuvenesce totalmente: volta a ter penas novas, garras afiadas, olhos penetrantes e o vigor da juventude. Seguramente este mito constitui o substrato cultural do salmo 103 quando diz:”O Senhor faz com que minha juventude se renove como uma águia”.

E aqui precisamos ser um pouco psicólogos da linha de C.G. Jung que tanto se ocupou do sentido dos mitos. Segunda esta interpretação, fogo e água são opostos. Mas quando unidos, se fazem poderosos símbolos de transformação.

O fogo simboliza o céu, a consciência e as dimensões masculinas no homem e na mulher. A água, ao contrário, a terra, o inconsciente e as dimensões femininas no homem e na mulher.

Passar pelo fogo e pela água significa, portanto, integrar em si os opostos e crescer na identidade pessoal. Ninguém ao passar pelo fogo ou pela água permanece intocado. Ou sucumbe ou se transfigura, porque a água lava e o fogo purifica.

A água nos faz pensar também nas grandes enchentes como conhecemos em 2010 nas cidades serranas do Estado do Rio. Com sua força tudo carregam, especialmente o que não tem consistência e solidez. São os infortúnios da vida.

E o  fogo nos faz imaginar o cadinho ou as fornalhas que queimam e acrisolam tudo o que não é ganga e não é essencial. São as notórias crises existenciais. Ao fazermos esta travessia  pela “noite escura e medonha”, como dizem os mestres espirituais, deixamos aflorar nosso eu profundo sem a ilusões do ego. Então amadurecemos para aquilo que é autenticamente humano e verdadeiro. Quem recebe o batismo de fogo e de água rejuvenesce como a águia do mito antigo.

Mas abstraindo das metáforas, que significa concretamente rejuvenescer como águia? Significa entregar à morte todo o  velho que existe em nós para que o novo possa irromper e fazer o seu curso. O velho em nós são os hábitos e as atitudes que não nos engrandecem: a vontade de ter razão e vantagem em tudo, o descuido para com o lixo, o desperdício da água e o desrespeito para com a natureza, bem como a falta de solidariedade para com os necessitados, próximos e distantes. Tudo isso deve ser entregue à morte para podermos inaugurar uma forma de convivência com os outros que se mostre generosa e cuidadosa com a nossa Casa Comum e com o destino das pessoas. Numa palavra, significa morrer e ressuscitar.

Rejuvenescer como águia significa também desprender-se de coisas que um dia foram boas e de ideias que foram luminosas mas que lentamente, com o passar dos anos, se tornaram ultrapassadas e incapazes de inspirar o caminho da vida. Temos que nos renovar na mente e no coração.

Rejunecer como águia significa ter coragem para recomeçar e estar sempre aberto a escutar, a aprender e a revisar. Não é isso que nos propomos a cada  novo ano?

Que o ano de 2013 que se inaugura, seja oportunidade de perguntar o quanto de galinha existe em nós que não quer outra coisa senão ciscar o chão  e o quanto de águia há ainda em nós, disposta a rejuvenescer ao confrontar-se valentemente com os tropeços e as crises da vida. Só então cresceremos e a vida valerá a pena.

E não podemos esquecer aquela Energia poderosa e amorosa que sempre nos acompanha e que move o inteiro universo. Ela nos habita, nos anima e confere permanente sentido de lutar e de viver.

Que o Spiritus Creator nunca nos falte!

Feliz Ano novo de 2013.

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Teologia da Libertação: “tudo é relativo menos Deus e a fome” (via Leonardo Boff.com)

JON SOBRINO é  é um colega de teologia. Ambos somos de 1938 e estudamos na Alemanha. Atualmente é professor da Universidade Centro-Americana – UCA -, de San Salvador. É um sobrevivente do massacre de todos os jesuuita da UCA, pois estava fora de casa. É considerados um dos mais representativos teólogos da libertação. Une mísstica com teologia, engajamento pelos pobres de seu pais com a reflexão crítica mais séria. Aqui nos oferece o verdadeiro rosto da Teologia da Libertação. Nunca mencionou Marx, pois ele não é nem pai nem padrinho desta Teologia, como erroneamente e malevolamente é acusada. Seu centro é o Deus da vida e por isso é o Deus que toma partido pelos que menos vida tem, os pobres e oprimidos.

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Onde Deus está?

Leonardo Boff

Legenda para pensar nos dias de Natal.

É atribuída a Lutero, o grande reformador no século XVI.

Era uma vez um homem muito piedoso. Ele queria já neste mundo chegar ao céu. Por isso se empenhava em fazer mais e mais obras de piedade, de caridade e de humildade. Assim que chegou, em fim, ao alto da escada da perfeição. Num certo dia, depois de grande devoção,subiu tanto que sua cabeça penetrou no céu.

Olhou em volta e ficou muito decepcionado.
Pois o céu estava escuro, vazio e frio.

É que Deus estava na Terra, numa majedoura, tiritando de frio e no meio de animais.

Lição da história: devemos buscar Deus lá onde Ele verdadeiramente está, no meio dos pequenos, dos pobres e dos invisíveis. E onde ele está, lá é o céu mesmo que seja num estábulo, de noite e no frio junto com animais.

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Alento aos desolados com a Igreja (via Leonardo Boff)

Atualmente há muita desolação com referência à Igreja Católica institucional. Verifica-se uma dupla emigração: uma exterior, pessoas que abandonam concretamente a Igreja e outra interior, as que permanecem nela mas não a sentem mais como um lar espiritual. Continuam a crer apesar da Igreja.

E não é para menos. O atual Papa tomou algumas iniciativas radicais que dividiram o corpo eclesial. Assumiu uma rota de confronto com dois importantes episcopados, o alemão e francês, ao introduzir a missa em latim; elaborou uma esdrúxula reconciliação com a Igreja cismática dos seguidores de Lefebvre; esvaziou as principais intuições renovadoras do Concílio Vaticano II, especialmente o ecumenismo, negando, ofensivamente, o título de “Igreja” às demais Igrejas que não sejam a Católica e a Ortodoxa; ainda como Cardeal mostrou-se gravemente leniente com os pedófilos; sua relação para com a AIDs beira os limites da desumanidade … Read More via Leonardo Boff

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Ainda o fundamentalismo (via Leonardo Boff)

O ato terrorista perpetrado na Noruega de forma calculada por um extremista norueguês de 32 anos, trouxe novamente à baila a questão do fundamentalismo. Os governos ocidentais e a mídia induziram a opinião pública mundial a associar o fundamentalismo e o terrorismo quase que exclusivamente a setores radicais do Islamismo. Barack Obama dos USA e David Cameron do Reino Unido se apressaram em solidarizar-se com governo da Noruega e reforçaram a idéia de dar batalha mortal ao terrorismo, no pressuposto de que seria um ato da Al Qaeda. Preconceito. Desta vez era um nativo, branco, de olhos azuis, com nivel superior e cristão, embora o The New York Times o apresente “sem qualidades e fácil de se esquecer”. … Read More via Leonardo Boff

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Estou saindo do armário (via A Ruiva)

Calma gente, não é o que vocês estão pensando! Não virei shimbalaiê! A questão é que estou saindo do armário em outro sentido: estou começando a assumir para mim mesma e para a sociedade o fato de que eu não tenho religião. E digo mais, assumir que não acredito em deus. Desde pequena eu não conseguia aceitar a ideia de que um livro poderia regrar toda a minha vida, e que um ‘cara lá de cima’, que dizia que me amava, me mandaria para o inferno se eu mentisse para a minha mãe sobre ter arrumado o meu quarto. Sentia-me incomodada quando eu ameaçava fazer alguma peraltice de criança e minha avó me desafiava com um sonoro ‘deus castiga, menina’. … Read More via A Ruiva

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Estado laico? Crucifixos proibidos no Corpo de Bombeiros de Tatuí/SP

Por Beto Bertagna

Uma decisão do capitão José Natalino de Camargo, comandante do Corpo de Bombeiros de Tatuí (SP), mandando retirar  os crucifixos e imagens de santos católicos da corporação reacendeu o “fogo” (desculpem o trocadilho infame) da questão religiosa na cidade, tão explorada de forma intensa e inadequada durante a campanha eleitoral deste ano. O capitão Camargo diz que “os simbolos católicos em repartições públicas fazem apologia da religião católica e contribuem para a falsa crença de que aquela religião é a única detentora da benesse estatal, ferindo a Constituição Brasileira que estabelece que o Estado é laico”. A Câmara de Vereadores decidiu publicar uma moção de repúdio contra  a medida tomada pelo militar. Na moção aprovada por unanimidade, os vereadores consideram que “no ato arbitrário o militar usou termos desrespeitosos, equivocados e imprudentes ao se referir aos símbolos católicos, demonstrando uma total falta de sensibilidade.” Um cidadão de Porto Velho,Rondônia que preferiu não se identificar assim se expressou: “Vejo isto em escolas públicas e as imagens estão em toda parte, me empurrando a fé católica. Se a Igreja Católica pretende colocar os símbolos, que os coloque em suas propriedades privadas, não nas públicas.”  Vamos agora aguardar o desdobramento dos fatos com a manifestação do Comando da Polícia Militar do Estado de SP e da paróquia de Tatuí, através do padre Milton de Campos Rocha. E você ? O que acha ?

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